Ficha de Leitura Nº. 3 - Autorrelatos

Introdução

 

        Os autorrelatos são um método de recolha de dados no qual a fonte de informação é a mensagem verbal do sujeito acerca de si mesmo. O principal pressuposto dos autorrelatos é o de que a mensagem verbal do sujeito é relativa a um determinado tipo de manifestações próprias (produto da introspeção), permitindo assim a experiência subjetiva, e a de eventos internos, externos, objetivos e subjetivos.

        Deste modo, o psicólogo pode conceptualizar o material que foi recolhido, tendo por base as perspetivas teóricas distintas e elaborar os resultados com recurso a diferentes desenhos psicométricos, hermenêuticos ou experimentais.

 

Características dos autorrelatos

 

        Qualquer informação verbal relativa a um sujeito sobre ele próprio, bem como, qualquer resposta a uma determinada pergunta sobre si mesmo, implica a utilização de processos de memória, linguagem e pensamento.

 

Processamento de informação e autorrelatos

 

        A informação é armazenada através de diferentes estruturas da memória, a partir de um armazenamento sensorial de curta duração, a memória a curto prazo (MCP), com capacidade limitada, e, em seguida, para a memória a longo prazo (MLP) com ilimitada capacidade de armazenamento. A informação recebida no momento mantém-se na MCP, tornando-se acessível para a produção de relatos verbais, enquanto a informação da MLP tem de ser recuperada de forma a poder ser evocada, e posteriormente transferida para a MCP. Qualquer pergunta na qual seja solicitado um desenho relativo a um evento passado, não realizada no momento em que ocorreu o evento ou posteriormente, será certamente construído com base no presente. Podemos então referir dois aspetos essenciais:

a)         Tempo – autorrelatos concorrentes (no momento em que ocorre a comunicação); presentes (tempo presente ou continuo) e passados. A auto-observação e autorrelato concorrentes são potencialmente mais exatos que os autorrelatos que são relativos ao passado.    

 

b)         Tipo de evento – pode referir-se a um evento que tenha sido armazenado da mesma forma como foram armazenadas as perguntas ou um acontecimento que exija uma determinada transformação. Interroga-se sobre valores, atributos, etc, que não foram realizadas no momento, assim, a informação será recuperada e a partir desta infere-se os atributos. Serão mais fidedignos, aqueles que se recuperam num formato semelhante ao que se utilizou para serem armazenados.

 

Sobre o que se informa:

·         Emoções (ex. se sente alegria ou tristeza)

·         Comportamentos motores (ex. quantos cigarros fuma num determinado espaço de tempo)

·         Pensamentos ou convicções (ex. se tem pensamentos suicidas)

·         Respostas fisiológicas (ex. se tem taquicardia)

·         Experiência subjetiva relacionada com determinados atos (ex. se acredita que está a fumar em demasia)

 

        Para além disso, o sujeito pode informar outras questões que necessitam de ser trabalhadas tais como qualificações, descrições, classificação ou construções sobre si mesmo ou de eventos externos, as suas atribuições de casualidade ( ex. quanto acredita que é a causalidade de um transtorno), que estratégias ou sequências de eventos utiliza para resolver um problema específico, como descreve narrativamente eventos externos ou pessoais e quais as suas aspirações futuras a nível de bem-estar, os seus projetos e planos de vida.

 

Acessibilidade e testabilidade

 

        O princípio da acessibilidade diz-nos que a informação que o individuo refere teve de ser processada previamente para poder ser fornecida, ou seja, tem de se encontrar acessível. Por exemplo, nos momentos principais da receção do estímulo, é percebido inicialmente num primeiro armazém sensorial, onde é selecionada a informação. O individuo não é consciente disto, por isso, não teria utilidade perguntar, seria mera reconstrução sendo por isso inacessível para o individuo.

        Atividades automáticas, que não são conscientes no momento da sua execução, podem ficar acessíveis se o individuo responde a essa atividade.

        Já o princípio da testabilidade diz-nos que apesar de não podermos contar com os métodos independentes de comprovação do mundo subjetivo, é possível deduzir utilizando diversas técnicas de autorrelato. Deste modo, os autorrelatos podem ser testados em diversos momentos para diversas situações e através de diferentes tipos de autorrelato, podendo-se obter assim uma semivalidação intrasubjetiva. Há também a possibilidade de testar de forma indireta comprovando-se se os relatos fisiológicos e motores ou os produtos de conduto esperados teoricamente. Existe uma certa independência entre as diferentes modalidades de resposta, inclusive em alguns casos esta falta de covariação seria uma das variáveis a modificar.

 

Autorrelatos Diretos vs. Indiretos

 

        As respostas verbais podem ser dadas em diversos níveis de inferência pelo avaliador, já que os autorrelatos podem ser percebidos de forma direta ou indireta.

        As várias garantias sugeridas para aumentar a qualidade dos autorrelatos são termos em consideração o tempo de referência e o nível de transformação do evento; Ao usar autorrelatos diretos é necessário ter em conta o grau de transformação que requer o evento questionado e se é possível constatar os autorrelatos sobre o passado, utilizar o autorrelato relativo às condutas motoras e fisiológicas como um primário procedimento de recolha de informação; Os autorrelatos relativos a eventos internos devem ser considerados como dados sobre conteúdos cognitivos ou subjetivos que devem ser examinados intrasubjetivamente, já aqueles relativos a conteúdos cognitivos, auto qualificação, valorização, experiência emocional, atribuição, entre outros necessitam ser entendidos como a expressão verbal de eventos internos; é também aconselhável não inferir as condutas motoras a partir de comportamentos cognitivos ou vice-versa, a menos que existam evidências; ao usar autorrelatos como procedimentos standard ou testes para avaliar de forma direta as dimensões de personalidade devem ser asseguradas as garantias psicométricas necessárias, caso contrário devem ser usados como expressão isomórfica da experiência do sujeito.

 

Unidades de análise ou variáveis a analisar

 

        Um dos aspetos mais importantes a mencionar é relativo às unidades de análise ou variáveis sobre as quais se pretende recolher informação. Historicamente, os autorrelatos são utilizados desde a psicologia diferencial, constituindo uma base fundamental para a construção de técnicas que permitem medir atributos intrapsíquicos a partir de correlatos. Na perspetiva comportamental os autorrelatos têm sido utilizados na recolha de informação referente a problemas comportamentais, sendo assim estes utilizados para avaliar relações entre estímulos e as respetivas respostas. Por outro lado, na perspetiva comportamental mais atual, os autorrelatos têm sido utilizados para avaliar a conduta e os construtos cognitivos. Os diversos tipos de autorrelatos agrupam-se com base nas variáveis que os mesmos investigam. Deste modo temos então os autorrelatos de características, dimensões e fatores – nomeadamente testes de personalidade, constituem-se autorrelatos tipificados, que se constroem através de procedimentos psicométricos e que permitem obter uma pontuação e conhecer a posição de um indivíduo numa determinada variável intrapsíquica, sendo realizada posteriormente uma comparação das suas respostas com as que foram obtidas do grupo normativo. Os autorrelatos de estado – para compreender este parâmetro é necessário ter presente a noção de posição situacionista, que defende que o comportamento depende dos estímulos e das situações presentes. Por exemplo, o conceito de ansiedade pode ser interpretado como uma disposição interna do indivíduo (o sujeito é ansioso). Mas, por outro lado, o indivíduo pode não ser ansioso e apresentar sinais de ansiedade perante determinadas situações, e nesta situação a ansiedade é vista como um estado; os repertórios comportamentais – a perspetiva comportamental rejeita nitidamente os autorrelatos que têm como objetivo avaliar as dimensões da personalidade, e isto essencialmente por causa dos procedimentos de recolha de informação que se debruçam muito sobre as construções intrapsíquicas e que ignoram os comportamentos internos. Os avaliadores do comportamento aceitam os autorrelatos verbais dos indivíduos que informem sobre a sua conduta motora, cognitiva e fisiológica, na medida em que estes permitam representar o repertório comportamental e não constructos intrapsíquicos. A avaliação comportamental dirige-se à análise funcional de transtornos de comportamento (área clínica). Têm sido desenvolvidos uma variedade de testes com o objetivo de realizar uma avaliação de transtornos de comportamento, como por exemplo o medo e a depressão. Os autorrelatos são insubstituíveis para realizar uma primeira especificação do problema e são imprescindíveis para avaliar tanto comportamentos relacionados com problemas cognitivos como também repertórios comportamentais que podem ser a causa da problemática e que são úteis no processo de recolha de informação sobre estímulos ambientais que podem estar a causar os problemas comportamentais.

        Existem também os repertórios cognitivos – a perspetiva cognitivo-comportamental postula que os processos cognitivos podem medir e/ou explicar o comportamento manifestado e as respostas fisiológicas. Esta perspetiva parte do pressuposto de que a existência de condutas cognitivas problemáticas e de determinadas estruturas e processos cognitivos podem servir como fatores para explicar perturbações motoras, fisiológicas e cognitivas. Existem três tipos de autorrelatos sobre constructos cognitivos: autorrelatos ligados à perceção que o indivíduo possui do seu sistema, repertórios relacionados com as mensagens ou instruções que o indivíduo dirige a si mesmo antes da situação problemática e repertórios relacionados com o funcionamento funcional.

        Por fim existem as construções ideográficas e de narrativa – na qual a perspetiva construtivista considera que a experiência subjetiva do indivíduo, o conceito de si mesmo, a forma como constrói a realidade e o significado que atribui ao seu mundo pessoal, físico e social são os aspetos essenciais da avaliação psicológica. Estas devem ser questionadas por meio da expressão verbal do indivíduo, formando assim os métodos subjetivos. O objetivo da avaliação dirige-se à investigação das construções ideográficas do próprio indivíduo.

 

Condições do autorrelato

 

            É importante analisar e realçar as diferenças entre as fontes de variação mais importantes relacionadas com os autorrelatos.

 

1.      Relacionadas com o contexto

Na maioria das vezes recorrem-se a autorrelatos aplicados em ambiente artificial. O aspeto mais importante a ter em conta nestes casos é que o sujeito não é incomodado nem existe qualquer tipo de mediação por parte de terceiros. Existem três procedimentos de recolha deste tipo de autorrelato: testes situacionais, roleplay e tarefas cognitivas. Algumas dificuldades que podem surgir, maioritariamente relacionados com a oportunidade e custo, podem levar a que seja preferível optar por uma situação artificial. Mas sempre que possível deve optar-se por um contexto natural.

·         Autorrelatos em contexto natural – o indivíduo pode fornecer informação sobre si mesmo no momento ou pouco depois de produzir a informação. Se o avaliador estiver presente pode registar pessoalmente as informações, e se não estiver, o próprio indivíduo pode realizar anotações para posteriormente entregar ao avaliar, realizando assim processos de auto-registo/ auto-observação. Existe também a possibilidade de acompanhar o indivíduo e registar não só a sua conduta como também o que este pensa e sente.

 

2.      Relacionadas com as perguntas

·         Perguntas estruturadas – a maioria dos autorrelatos constam de uma série de perguntas nitidamente definidas e estruturadas. Estes diferem num contínuo entre perguntas mais gerais ou específicas.

·         Perguntas semiestruturadas – por vezes pode-se apenas atribuir uma folha de registo ao indivíduo e informá-lo sobre o que se pretende com indicações mínimas. São autorrelatos com uma estrutura de pergunta mínima e que permite conferir uma grande flexibilidade e ideografismo.

 

3.      Relacionadas com as respostas (4 alternativas mais frequentes)

·         Resposta dicotómica – “Sim/Não” e “Apropriado/Não Apropriado”.

·         Respostas escalares – escalas de apreciação (por exemplo 0 = nada satisfeito e 5 = totalmente satisfeito).

·         Alternativas ordinais – hierarquizar por ordem de preferência (1º, 2º…).

·         Resposta aberta – procura perceber o que o indivíduo pensa ou sente, permitindo assim que a sua resposta seja o mais genuína possível.

 

4.      Relacionadas com a construção de autorrelatos e tratamento de resultados

·         Construções – existem três tipos de técnicas: racionais (reúnem-se as perguntas que o investigador acha pertinentes de acordo com uma determinada teoria), empíricas (variam sistematicamente os sujeitos em que se observa a característica que está a ser objeto de estudo, procurando analisar os itens discriminativos) e fatoriais (seleciona os elementos do autorrelato em função do seu peso fatorial num determinado fator).

·         Tratamentos dos resultados – a maioria dos autorrelatos standard procuram identificar as diferenças individuais. A pontuação obtida por um indivíduo é convertida numa pontuação normalizada dada a posição do indivíduo em relação ao grupo. Existem também autorrelatos específicos que não requerem nem permitem, isto é, autorrelatos de resposta aberta em que se procede à análise do conteúdo.

 

Principais tipos de autorrelatos

 

        Questionários, inventários e escalas:

 

        Quando um conjunto de autorrelatos estruturados aparece coletado ou integrado numa lista é-lhes atribuído a designação de questionário ou inventário. Os questionários envolvem uma resposta expressa de forma dicotómica ou nominal, enquanto que os inventários apresentam possibilidades de resposta distintas, tanto nominal como ordinal, tal como escalas, listas de adjetivos e outros instrumentos semelhantes de respostas em intervalos.

        Os questionários e os inventários diferem entre si em dois aspetos: em primeiro lugar no modo como os elementos que os compõem são selecionados, o que vai determinar se o que se está a avaliar são constructos nomotéticos ou ideográficos; e no tipo de resposta que exigem do indivíduo. As suas principais características são as seguintes: São autorrelatos estruturados, tanto a nível das perguntas como das respostas; Avaliam condutas ou classes de condutas previamente especificadas; Pedem informação sobre o que ocorre habitualmente e que o indivíduo conhece bem; Apesar de as perguntas se referirem a questões da vida real, apresentam-se de forma verbal e as respostas registam-se de forma estruturada; e as formas de avaliação são muito diversas.

        Os autorrelatos constituem técnicas polivalentes semiestruturadas de avaliação comportamental ou de classes de comportamentos muito distintos.

        Em contextos naturais, é fornecida ao sujeito uma folha de papel onde consta a conduta a registar e também as condições nas quais o deve fazer, sendo que o indivíduo deve anotar o comportamento no mesmo momento no qual este se verifica.

        A anotação dos registos pode ser efetuado com papel e lápis (implicam o registo da ocorrência ou não ocorrência do comportamento em determinado período de tempo o que consequentemente possui uma complexidade variada, podendo requerer a observação de eventos prévios e posteriores ao comportamento), contadores de resposta (contadores mecânicos que registam o surgimento do comportamento em análise – frequência), dispositivos de tempo (cronómetros para registo de duração de determinado evento) e dispositivos eletrónicos (gravadores de áudio ou vídeo para registo em tempo diferido do comportamento do sujeito).

        O autorrelato necessita de uma preparação prévia para ser efetuado. Desde logo uma planificação com seleção das unidades de análise ou comportamentos a observar e registar, tomada de decisões sobre as unidades de medida, desenho dos formatos do protocolo de auto-observação e autorrelato (explicação pormenorizada dos comportamentos que vão ser observados, a sua exemplificação e o compromisso verbal ou escrito por parte do sujeito da correta observação e registo do comportamento) e ainda o treino do próprio sujeito.

        Os autorrelatos são aconselhados quando se pretendem estudar respostas encobertas que foram detetadas num outro autorrelato ou em casos de respostas motoras e/ou fisiológicas que se supõe estarem relacionadas a mediadores internos. Também são aplicáveis em condutas consideradas íntimas ou em condições em que a observação e o registo comportamental não são possíveis. No entanto, a validade está sempre dependente, entre outros fatores, das condições do tipo de comportamento avaliado e do tipo de critério utilizado

        O pensamento em voz alta constitui uma técnica não estruturada de auto-observação, que deve ser utilizada em complemento com outras técnicas, e na qual a verbalização ocorre simultaneamente à conduta, registando-se aquela em laboratório ou em consulta.

        Pode ser pedido ao sujeito para verbalizar os seus pensamentos ou sentimentos ao mesmo tempo que realize uma determinada atividade proposta pelo experimentador (monólogo contínuo), ou então este último pode recolher uma amostra, no tempo da sessão experimental, da verbalização dos pensamentos do sujeito (amostra de pensamentos). Além destas hipóteses, o sujeito pode ainda assinalar quando ocorre uma determinada atividade interna que seja de interesse para o examinador (registo de eventos). A análise destes dados é difícil, mas é possível de ser realizada através da categorização do conteúdo verbal ou de esquemas teóricos.

        A entrevista é a técnica mais importante, pois ela implica um intercâmbio, cara a cara, entre duas pessoas, a que solicita a informação e a que a fornece. É adaptável a qualquer contexto, apresentando por isso um formato flexível, semiestruturado e aberto às eventualidades da situação. Além disso, o avaliador participa na entrevista e garante informações verbais e também não-verbais do sujeito. A entrevista é uma técnica de utilização longitudinal, considerada a principal no processo de avaliação.

        A autobiografia é uma técnica de avaliação da subjetividade através da análise da narrativa do sujeito.

        Em contexto avaliativo, a autobiografia tem adotado distintas formas num contínuo de estruturação, desde aquela que é realizada pelo sujeito de forma espontânea até à que implica uma estrutura específica por parte do investigador com o fim de comparar a narrativa de diversos sujeitos sobre o mesmo conteúdo ou circunstância da vida.

        A autobiografia pode também ser completada com outras técnicas que permitam autenticar as situações descritas. Também o avaliador pode, por outro lado, ajudar o sujeito a recordar-se de eventos importantes do seu passado bem como da experiência subjetiva destes através de diversas técnicas, como por exemplo a Linha da Vida (LL) ou a evocação das circunstâncias que provocaram uma alteração relevante e irreversível na vida do sujeito (Branching points).

        A LL implica uma técnica gráfica de duas coordenadas. Uma linha horizontal representa o tempo, desde o nascimento do sujeito até ao presente e uma linha vertical representa a escala de subjetividade positiva ou negativa com que o sujeito encara determinado evento ocorrido na sua vida. O sujeito, sem levantar o lápis do papel, deverá desenhar uma linha em que vá situando no tempo e ao mesmo tempo classificando subjetivamente os diversos eventos importantes da sua vida.

        Os autorrelatos podem diferir de forma significativa, consoante o tipo de variável que avaliam, o tipo de operação interna que exigem do sujeito, o momento no qual se produz o evento, o tipo de inferência que o avaliador realiza sobre eles, o tipo de pergunta que contenham, o tipo de resposta que exigem, entre outros.

        O avaliador deve ter em consideração determinados fatores, como o tipo de simulação (rasgo ou fator de erro) ou o sentido de distorção (positivo ou negativo) devendo como tal utilizar os meios necessários, tanto para conseguir uma redução dos seus efeitos, como para comprovar se o sujeito está a atuar de forma sincera, através de escalas corretoras específicas. Para além disso, é necessário ter-se cuidado com a tendência de os sujeitos responderem “sim” ou “verdadeiro” nos questionários de resposta dicotómica. Também é comum os indivíduos responderem ao centro ou, pelo contrário, aos extremos das escalas o que pode ser controlado por procedimentos estatísticos. Um perigo referido por muitos autores relaciona-se com a desejabilidade social, uma vez que existe a tendência não voluntária dos sujeitos darem uma imagem de si mesmos socialmente desejáveis.

        As auto-observações serão tão mais plausíveis quanto mais motivados os sujeitos estejam para fornecer informações exatas; mais atuais sejam os eventos; mais experiência tenham quer sobre a situação como sobre a conduta de que falam; menos inferências tenham que realizar sobre o evento informado (a não ser que essas inferências sejam o objeto de estudo e menos inferência sobre os dados da auto-observação sejam, realizadas pelos avaliadores e mais específicas e menos ambíguas sejam as perguntas colocadas.

Reflexão

De forma geral, um autorrelato pressupõe uma mensagem verbal que um determinado sujeito emite sobre qualquer tipo de manifestação própria, a informação verbal como qualquer resposta a uma pergunta sobre si mesmo, que se pode referir a condutas, experiências e também a descrições ou comentários, envolvendo sempre processos a nível de memória, pensamento e linguagem. As manifestações podem ser externas (observáveis e públicas) ou internas (não observáveis e íntimas). As externas e observáveis podem ser acessíveis através de outros procedimentos de diagnósticos. No entanto, os autorrelatos possuem uma grande utilidade na medida em que constituem um dos poucos meios de que dispomos para aceder a informações específicas de carácter privado e íntimo. Os autorrelatos têm uma grande relevância para variáveis como o estado de conduta, atitudes, traços personalísticos etc. Assim, existe uma grande diversidade de temas onde se podem aplicar, ainda que seja importante frisar que a informação sobre todas estas variáveis refere-se sempre à própria pessoa que imite o autorrelato.

Quanto maior a motivação dos sujeitos para fornecerem informações concisas, mais veracidade terão nos autorrelatos. A sua fidedignidade está relacionada ainda com a atualidade dos eventos, a sua experiência relativamente à situação e à conduta que está em questão, o número de inferências que foi realizado, assim como a ambiguidade das perguntas que foram colocadas.