Ficha de Leitura Nº. 1 - Observação

Introdução

 

A avaliação psicológica requer, obviamente, recolha de informação, que é efetuada através de diversas técnicas, todas estas implicando observação. Mas, o que é exatamente observação e o quê que esta implica? Em primeiro lugar, observação é qualquer procedimento ou técnica de recolha de informação que exige a perceção voluntária de comportamentos efetuados por um indivíduo. É feita por um observador treinado, participante ou não participante, mediante o uso de protocolos mais ou menos estruturados preparados para o efeito, que visam a anotação sistemática, em situação natural ou parecida. Uma das características diferenciadoras da observação enquanto técnica de avaliação é a sua não extração de respostas. A observação é constituída por diversas dimensões, unidade de análise, nível de inferência, tempo do evento, protocolo, observador, participação e situação, que pretendem servir de guia para a sua classificação no que ao rigor e à qualidade dizem respeito.

 

Unidades de Análise - O que observar?

 

        Unidade de análise ou de observação designa um conjunto de eventos comportamentais, passíveis de apresentarem vários graus de molaridade-molecularidade em função dos objetivos da avaliação, que são:

1.       Comportamento Contínuo – observação do comportamento de forma contínua.

- Características: não se realiza uma especificação prévia dos comportamentos a observar; observa-se em tempo real e de forma contínua; realizam-se descrições sobre os aspetos verbais, não-verbais e/ou espaciais do comportamento.

2.                   Atributos – inferidos a partir dos comportamentos manifestados.

- Características: a atividade manifesta observada é descrita em termos de um determinado atributo; a conversão dos dados do comportamento pode realizar-se durante ou após a observação; são utilizados espaços temporais amplos

3.                   Comportamentos – comportamento (verbal ou motor) definido em termos simples e bem agrupado em classes ou categorias.

- Características: existe uma definição prévia do comportamento/ tipo de comportamento a observar que pode ser denominado, definido e delimitado; a formulação pode ser teórica ou empírica; requer inferências mínimas por parte do observador; exige a seleção dos intervalos de tempo durante os quais se vai realizar a observação, do sujeito que vai ser observado e da duração total de todo o processo de observação.

4.                   Interações – relação sequencial entre dois eventos provenientes de duas ou mais pessoas ou entre uma pessoa e uma dimensão ambiental.

- Características: especificação prévia dos comportamentos/tipos de comportamentos que são interessantes observar; são influências recíprocas existentes entre indivíduos, entre um indivíduo e um grupo ou um determinado ambiente; utilização de unidades de tempo previamente estabelecidas.

5.                   Produtos do comportamento – resultado de um conjunto de atividades internas ou externas que os sujeitos realizaram em situações naturais ou artificiais. Existem dois tipos de produtos de observação (provenientes de ações do sujeito no passado - medidas não reativas – e provenientes de ações que o indivíduo realiza partindo de tarefas apresentadas pelo avaliador). Os dados de observação não reativos designam-se por erosão, “pegada” e arquivo.

- Características: as observações não reativas são excelentes procedimentos de avaliação mas têm o inconveniente de que os sujeitos, agentes dos comportamentos, podem não ser identificáveis; a observação dos resultados da execução de tarefas estandardizadas otimiza a comparabilidade; o maior problema destas unidades de análise está em serem utilizadas como expressão de supostos atributos intrapsíquicos dos sujeitos observados.

 

O que medir das unidades?                                                                                                                                         

       Ocorrência – se o fenómeno se verifica ou não; - Ordem – a ordem em que se apresentam; - Frequência – o número de vezes que um dado fenómeno se repete durante uma determinada unidade temporal; - Duração – intervalo entre o início e o fim de uma determinada atividade; - Dimensões Qualitativas – aspetos qualitativos de uma determinada unidade de observação (intensidade, magnitude, adequação).

 

Técnicas de Registo

 

        A sistematização da observação depende da estrutura teórica de referência do observador. Os avaliadores psicodinâmicos e construtivistas focam-se em protocolos pouco sistemáticos, o que permite a descrição continuada da conduta observada. O nível de estruturação da observação pode estar relacionado também com a fase na qual ela se efetua, mediante um plano que é composto por um primeiro momento em que se realiza uma observação pouco sistematizada, com o intuito de estudar a melhor forma de operacionalizar o evento a observar, principalmente quando não existem padrões sobre o fenómeno em estudo. Depois da observação os eventos relevantes para o objetivo avaliativo serão selecionados, sendo, de seguida, observados de forma sistemática.

 

Registos narrativos

 

        Frequentemente, etólogos, psicólogos sociais construtivistas, ecologistas e fenomenologistas realizam registos narrativos daquilo que observam. Estes são um formato flexível de recolha de características muito diferentes e modalidades das atividades dos sujeitos, uma vez que o protocolo que os sustenta não apresenta mais especificidades do que a data de registo e circunstâncias gerais da sessão (tempo, lugar, pessoas presentes e outras circunstâncias potencialmente relevantes).

Duas fontes fundamentais de erro que afetam a fiabilidade dos registos são citadas por Cone e Foster (1982), nomeadamente:

1) Os observadores podem utilizar descrições verbais distintas para um mesmo comportamento ou padrão comportamental;

2) De acordo com o registo, pode ser efetuada uma categorização ou uma atribuição de significados distintos aos mesmos eventos.

Estes tipos de erro podem controlar-se, caso os observadores sejam treinados no uso de uma linguagem descritiva semelhante das atividades passíveis de serem produzidas no campo de observação. Os registos narrativos utilizam-se frequentemente como um passo prévio para a elaboração de padrões estruturados e podem também ser úteis quando os comportamentos examinados aparecem com baixa frequência.

 

Escalas de apreciação

 

        Baseadas nas escalas de avaliação, as escalas de apreciação ou estimativa são utilizadas quando é pretendida uma quantificação, qualificação ou classificação das atividades de um sujeito segundo definições comportamentais específicas, dimensões ou atributos da personalidade que foram previamente estabelecidos. Os diferentes tipos de escalas possuem algumas características comuns: o observador realiza ou realizou a observação em grandes períodos de tempo, sendo considerado, na generalidade dos casos, um observador participante; a informação dada sobre o sujeito ocorre, geralmente, de forma diferida; as descrições comportamentais que são usadas podem ser de vários tipos, dependendo do quadro de referência do avaliador e variando num contínuo molaridade-molecularidade, no nível de inferência que exigem e nos objetivos referentes à pesquisa; podem ser utilizados vários descritores (ou atributos) ou categorias, o que torna viável utilizar descrições comportamentais pormenorizadas. As escalas de apreciação são úteis: - para se obter uma primeira aproximação quantificada do(s) comportamento(s) problemático(s) e adaptativo(s) de um indivíduo; - tornam possível a obtenção de dados sobre a validação social de um determinado tratamento, isto é, quando se pretende analisar se uma dada intervenção psicológica apresentou efeito. Este tipo de registo observacional pode contaminar o avaliador com opiniões externas, produzindo um efeito halo, canalizado para futuras observações.

 

Protocolos observacionais de comportamento

 

        Os protocolos observacionais mais frequentes são os registos de condutas (agrupamento de uma série de eventos comportamentais bem definidos e relevantes para o evento que está a ser estudado, sem o objetivo de ser exaustivo na observação. Para os registos serem efetuados, deve seguir-se o procedimento descrito adiante: primeiramente há seleção das unidades de análise ou condutas a observar e a sua definição operativa, depois existe a decisão sobre as unidades de medida, dimensões ou parâmetros relevantes para as condutas selecionadas, de seguida desenha-se o formato do protocolo, que poderá ser constituído pela anotação da data, local, intervalo de observação e outros dados relevantes para a observação e, posteriormente, terá de ser efetuado, no caso de não serem especialistas no assunto, treino dos observadores. No entanto, este tipo de registo apresenta limitações: como não é possível determinar o momento exato da ocorrência do comportamento, a fiabilidade é dificultada; torna-se inviável quando os comportamentos examinados são muito frequentes ou quando existem vários comportamentos em análise; quando são pouco frequentes, o observador pode diminuir a sua atenção. Apesar de tudo isto, este métodos pode ser a única hipótese que observador possui para conseguir dados observacionais), as matrizes de interação (que têm como objetivo a constatação das interação produzidas entre o ambiente social e o comportamento. Não é suficiente, por vezes, apenas a avaliação do sujeito/assunto, mas também têm de ser contempladas as interações estabelecidas entre indivíduos ou entre um indivíduo e um grupo. Nas interações sociais, em determinado ambiente, podem fundar-se dois objetivos: constatar as relações funcionais entre uma conduta e as suas contingências e ainda estudar as relações interpessoais que se mantêm num determinado grupo social ou contexto. Resumidamente, este registo requer um menor esforço por parte do observador, já que este não tem de memorizar abreviaturas referentes às categorias e a sua descrição e comportamentos tendem a ser relativamente mais simples.         Pressupõe, ainda, uma multiutilização aplicável a várias situações, alterando-se apenas os comportamentos em análise. Para além disto, o número de categorias comportamentais é, regra geral, reduzido, e são aplicados em interações diádicas (mãe-pai, filho-mãe) e triádicas (pai-mãe-filho). A definição operacional das condutas é a maior dificuldade deste tipo de registo e as vantagens que este apresenta diminuem à medida que aumentam as categorias comportamentais e/ou o número de pessoas) e os mapas de conduta (consistem na observação sistemática de comportamentos específicos que se situam em coordenadas espaciotemporais com a finalidade de analisar as reações entre conduta e as variáveis ambientais. Para se realizarem mapas de conduta, utiliza-se o seguinte procedimento: primeiro, selecionam-se unidades de análise e observação segundo determinados parâmetros ou unidades de medida; depois existe a escolha dos lugares onde observação vai ser realizada e a reprodução esquemática do lugar; de seguida desenham-se os protocolos: protocolo de observação e de registo, folha de resultados e representação gráfica; posteriormente, à uma amostra espaciotemporal numa mesma linha e, por último, efetua-se o treino dos observadores).

 

Códigos ou sistemas de categorias

 

        São os procedimentos observacionais mais sofisticados e podem também ser chamados de esquemas de codificação. São constituídos pela denominação, delimitação e definição de categorias dos eventos comportamentais e/ou contextuais que se pretendem observar e constituem o mecanismo de articulação e regulação da observação. O avaliador não costuma construir um sistema de categorias para a observação de um só indivíduo. Para Haynes (1979), os códigos de categorias de condutas permitem um limitado mas amplo número de atividades a observar, advêm de informação sobre comportamento e/ou interações complexas; permitem fazer a comparação entre os sujeitos e os investigadores; simplificam o processo de observação, já que o treino dos observadores pode ser útil para outros casos; tende a ser fiável ao nível científico, uma vez que é um procedimento padronizado.

 

Registo de produtos de conduta

 

        Ao descrever as unidades de análise utilizadas nos métodos observacionais, os dados observacionais não reativos e os resultados de execuções em situações naturais ou artificiais, constituem os dois grandes grupos. Ambos na sua maioria, englobam o registo de medidas físicas, porém, outros resultados humanos exigem não só medidas físicas, mas também de valorização da qualidade desses mesmos resultados.

 

Procedimentos automáticos de registo

 

        Na tentativa de converter a observação num método científico rigoroso, foram elaborados dispositivos automáticos de registo que facilitam a tarefa do observador. Estes procedimentos podem ser divididos em três grandes grupos: meios técnicos de registo auxiliares do observador (possibilitam o registo automático dos eventos comportamentais previamente definidas e cujos dados também podem ser colocados no computador, de forma a realizar uma análise dos parâmetros – ocorrência, duração, frequência, sequência, simultaneidade, etc. – examinados. A vantagem destes procedimentos é a de minimizar alguns dos preconceitos provenientes do observador), mecanismos de registo que diminuem a reatividade dos sujeitos observados (à distância ou ocultos) (são utilizados cada vez mais como uma boa opção para minimizar os preconceitos do observador. No entanto, por razões éticas, o uso destes sem a devida autorização do sujeito observado é desaconselhado, sendo, então, necessário um consentimento informado do mesmo para registo São exemplos destes mecanismos o magnetofone, o leitor de vídeo e os espelhos unidirecionais) e técnicas de amplificação da resposta que permitem a medição de comportamentos encobertos, privados ou pouco acessíveis (observação mediante dispositivos) (o observador humano é substituído quase totalmente por um dispositivo que regista o comportamento mediante processos mecânicos, elétricos ou eletrotécnicos. Todos estes amplificam as respostas fisiológicas, esqueléticas, motoras ou cognitivas e permitem o seu registo. Um conjunto de fatores devem ser tidos em conta para se escolher uma técnica de registo observacional: a complexidade e especificidade do problema a ser examinado; caso se tratem de eventos bem definidos e em escasso número convém utilizar catálogos de conduta; quando o problema se define como primariamente ativo (de par e de família) deverão ser eleitas matrizes ou códigos de interação; quando se pretendem examinar problemas complexos, bem especificados, deverão ser escolhidas prioritariamente estas técnicas; sempre que seja possível deverão ser utilizados os dispositivos automáticos, objetivos e/ou ocultos de registo, salvaguardando as questões éticas.

 

Amostragem - Quando e quem observar?

 

        Os eventos comportamentais ocorrem num determinado tempo e situação, sendo, então, necessário estabelecer não só o que observar mas quando, como e quem. O recurso à observação contínua, na maioria dos casos, não é viável, pelo que se pode optar pela utilização de procedimentos amostrais cujo objetivo é sempre o de obter amostras representativas dos eventos que são alvo de estudo. As amostras podem dividir-se em 3 grupos:

 

Amostras de tempo

 

        Durante quanto tempo se vai observar? Quantas sessões se vão realizar? Com que periodicidade? Com que intervalos construir a observação/ o registo? Para decidir esses detalhes há que ter em conta o tipo de evento a registar, a sua complexidade e número, a frequência e duração com que se supõe que ocorra e o tipo de unidade de medida ou dimensão da resposta eleita.

 

Amostras de situações

 

        Quando é necessário comprovar a generalização dos comportamentos que são objeto de estudo ou a sua especificidade. O método passa por elaborar uma lista de todas as situações onde é possível que o comportamento ocorra e, de seguida, recolher amostras de todas elas.

 

Amostras de sujeitos

 

        Quando se pretende observar não a atividade de um sujeito mas sim de um grupo de indivíduos. Procede-se da seguinte forma: seleção localizada de indivíduos – seleção aleatória dos sujeitos a observar; seleção de intervalos de observação em função do número de sujeitos a observar; eleição de um critério de razão fixo ou variável – ordenamento dos sujeitos que serão observados; realizar uma rotação do critério de seleção dos sujeitos a observar.

 

Local da observação – Onde Observar?

 

        Quando se fala de observação sistemática está a fazer-se referência àquela que se produz na situação natural. O objetivo de recolher dados sobre o comportamento no local onde ele ocorre nem sempre é possível, devendo, nesses casos, optar-se pela utilização de técnicas observacionais em situações laboratoriais controladas, as chamadas situações análogas. - Observação em situações naturais - a que se realiza no ambiente natural do sujeito, sem que exista qualquer intervenção por parte do avaliador. - Utilização: contexto familiar (Sistema de Codificação Comportamental - BCS; Código de Observação - SOC); contexto institucional (Sistema de Avaliação de Residências de Idosos - SERA); âmbito comunitário. - Dificuldades: os sujeitos podem negar-se a ser observados na sua vida real; os comportamentos podem ser de caráter privado; podem existir inconvenientes na deslocação do psicólogo; o custo da observação natural é extremamente elevado. - Observação em situações artificiais - a que se realiza em ambientes artificialmente replicados. - Meios: testes situacionais, role-playing, realidade virtual (VAT). - Resultados: maior validade interna e menor validade externa.

        Características: a sua aplicabilidade depende da replicabilidade em laboratório, da especificidade, da probabilidade de ocorrência e da reatividade dos eventos objeto de estudo; grande precisão perante a aplicação de tratamentos; o seu poder preditivo e a sua validade externa dependem da estrutura e do conteúdo dos eventos a observar; mais utilizada como procedimento de investigação; não deve utilizar-se a observação em situações artificiais como único método de avaliação.

 

Garantias científicas da observação

 

        Como todo o processo de avaliação, a observação deve apresentar uma série de garantias que provem o seu valor científico, como é o caso da fiabilidade, validade e precisão da observação. Existem algumas fontes de erros na observação: - Derivadas do sujeito observado: um dos problemas da observação é que os sujeitos podem alterar o seu comportamento pelo facto de saberem que estão a ser observados (reatividade). É preciso saber identificar a fonte de erro para a poder controlar. Por exemplo, um dos fatores que pode causar esta reatividade é o facto do processo observacional introduzir novos estímulos no ambiente que podem tornar-se discriminativos para o sujeito. É necessário tomar algumas medidas para controlar isso, como por exemplo utilizar observadores participantes sempre que seja possível; - Derivadas do observador: o observador introduz uma importante fonte de erros que vão contaminar os resultados. Muito do processo depende do próprio observador, dos seus sistemas psicológicos e recetores sensoriais que são os principais meios de registo. Garantir objetividade implica usar dois observadores. Os aspetos mais relevantes que podem mediar os resultados da observação são: o grau de participação do observador (um observador não participante, observador especialista mas que está presente e visível ao sujeito, pode aumentar ainda mais a reatividade; um observador familiarizado com o sujeito, que é treinado para observar, pode reduzir a reatividade, mas pode também diminuir a objetividade e precisão da observação), as expetativas (as expetativas que o observador tem da situação experimental podem ser uma fonte de enviesamento da observação), o treino (é necessário que o observador, seja qual for o seu grau, adquira previamente formação para a tarefa de observação, de forma a garantir a obtenção de dados objetivos e precisos) e características gerais (as características do observador – sexo, idade, habilidades, …). - Derivados do sistema de observação: mais concretamente a forma de registo escolhida, a amostragem e os dispositivos técnicos selecionados). Algumas questões sobre a validade, fiabilidade e precisão da observação: - Até que ponto os dados recolhidos por um observador são generalizáveis aos recolhidos por outros observadores? Uma das garantias da observação está no facto de se utilizar mais do que um observador. Vários procedimentos têm sido descritos para perceber como lidar com este aspeto. São o caso de procedimentos que fazem referência ao acordo entre observadores e que permitem quantificar isto. Os índices de concordância devem ser obtidos em função da unidade de medida utilizada. Os três parâmetros básicos são: a ordem de ocorrência, a frequência e a duração. Os índices mais adequados para encontrar o grau de concordância são os seguintes: concordância para escalas nominais, concordância segundo a frequência e concordância baseada na duração. - Até que ponto o que é observado num determinado momento é generalizável a outros momentos da vida do indivíduo? Se os dados que se registaram num determinado período observacional se repetem em outros períodos, então podemos falar de estabilidade das observações e da possibilidade de as generalizar a um universo temporal. Existem dois procedimentos mais frequentes para verificar esta forma de fiabilidade: através de correlações que se podem obter entre duas observações registadas em dois ou mais momentos, por meio de coeficientes de fiabilidade (correlação de Pearson e Spearman) e por intermédio da apreciação visual da linha de base gravada. - Até que ponto os dados derivados de uma situação de observação são generalizáveis a outras situações? Com isto estamos a referir-nos ao universo de generalização das situações, assim como à validade ecológica do observado. É decidir sobre a possibilidade dos dados recolhidos em situações artificiais serem generalizados à vida real. O avaliador deve saber até que ponto o comportamento demonstrado por um sujeito numa dada situação também ocorre em outras situações. - Até que ponto os dados avaliam o construto que se quer observar? A observação tem como principal objetivo o estudo do comportamento manifestado e, por isso mesmo, tem sido entendida como o ultimo critério de validade. No entanto, esta classificação tem sido criticada, uma vez que mediante a observação medem-se certas construções, o que implica a demonstração da validade do construto e conceitos relacionados. Há também autores que consideram que as garantias da observação estão mais relacionadas com a fiabilidade e o universo de generalização dos observadores do que com a validade do construto.

 

Reflexão

 

        Temos consciência que a observação é um mecanismo fundamental em qualquer que seja o método científico e, por isso, é uma ferramenta frequentemente utilizada pelo psicólogo na avaliação psicológica. Devido a esta importância, é imprescindível que nós, estudantes, conheçamos melhor os procedimentos que permitem a análise deliberada dos comportamentos, bem como os pormenores inerentes às questões mais teóricas da observação.

        Podemos, primeiramente, referir que o observador pode enquadrar a sua participação a diferentes níveis, consoante os protocolos mais ou menos estruturados e em situações naturais ou artificiais. No entanto, este método, pela sua impossibilidade de integração de um guião extremamente padronizado, depende bastante da postura, experiência e treino do observador, que influencia diretamente a objetividade e a clareza da informação recolhida.

        Apesar de, como referido, não ser possível criar um procedimento demasiado rigoroso para a observação, deve-se tentar responder previamente a algumas questões (O que observar? Unidades de análise: comportamento contínuo, atributos, interações, comportamentos ou produtos do comportamento. O que medir? Unidades de medida: ocorrência, ordem, frequência, duração e dimensões qualitativas. Como medir? Técnicas de registo: registos narrativos, escalas de apreciação, protocolos observacionais de conduta (registo de condutas, matrizes de interação e mapas de conduta), códigos ou sistemas de categorias, registo de produtos de conduta e procedimentos automáticos de registo - meios técnicos de registo, mecanismos de registo à distância ou ocultos e observação mediante dispositivos -. Quando e a quem observar? Procedimentos amostrais. Onde observar? Situações naturais e situações naturais) de forma a tentar minimizar as opções e variáveis não consideradas, para que tudo decorra como o previsto. Isto é essencial para selecionar, com clareza, de acordo com as especificidades de cada situação, quais os procedimentos a adotar mais adequados. Assim, é possível obter informação mais próxima da realidade e evitam-se erros observacionais.

        Como em qualquer processo de avaliação, a observação deve apresentar garantias que provem o seu valor científico, ao nível da fiabilidade, validade e precisão de observação, visto que são estes pressupostos que viabilizam a utilização dos dados obtidos em observação para estudo.