Teste D.70

Introdução

 

        O presente trabalho surge no âmbito da unidade curricular de Modelos e Processos de Avaliação Psicológica, parte integrante do segundo ano do curso de licenciatura em Psicologia da Universidade de Évora, lecionada pela Professora Doutora Adelinda Candeias.
Neste trabalho analisaremos a versão Portuguesa do teste D-70, explicitando assim o propósito como medida psicométrica, bem como as normas inerentes à sua administração e cotação, passando para a sua fiabilidade e terminando numa breve descrição das vantagens e limitações que esta prova possui.
Este trabalho encontra-se organizado segundo a sexta edição das normas da APA e ao abrigo do novo acordo ortográfico.

 

Nome original da prova

 

D-70 - Teste de dominós

 

Autores

 

 F. Kowrousky & P. Rennes – Centre de Psychologie Appliqueé (Paris),

Copyright, 1970 (Alves, 2006)

 

Adaptação Portuguesa

 

António M. Rocha & Maria H. Coelho - Secção de Estudos de

Testes Psicológicos da CEGOC-TEA LDA, Lisboa, 1983 (Rocha & Coelho, 1983)

 

        O teste D-70 é um teste de inteligência geral não-verbal, criado em 1970, em França, como substituto do D48 (caso este seja já conhecido pelo sujeito alvo) ou complemento (para confirmação dos resultados). Seguindo os mesmos princípios de elaboração do mesmo, pretende avaliar as funções centrais da inteligência, que compreendem a abstração e a compreensão de relações. Este teste avalia, portanto, de forma relativamente pura o fator “g” (fator geral) que, para Spearman, corresponde à inteligência geral e está presente em todas as performances intelectuais, contrariamente a fatores específicos que seriam característicos de uma determinada performance.
        Adolescentes e adultos com nível de escolaridade semelhante ao ensino secundário e superior são os sujeitos aos quais a prova é destinada, podendo esta ser realizada individual ou coletivamente. É efetuada para fins clínicos, de recrutamento e aconselhamento profissional e possui uma duração máxima de 25 minutos.
        Para a execução bem-sucedida desta prova, o sujeito deve descobrir o número de pontos que devem estar nas duas metades de um dominó em branco, de maneira a que este complete uma sequência lógica. O indivíduo deve escrever os algarismos correspondentes na folha de respostas destinada ao efeito.

 

Descrição

 

        Em comparação com outros testes de fator g (Ex: as Matrizes Progressivas de Raven) o D-70 tem a particularidade de que o sujeito deve construir a sua resposta e não escolher entre várias possibilidades, o que consequentemente se traduz numa probabilidade muito menor aqui para encontrar a resposta certa por acaso.
        O D-70 é um teste de inteligência geral, não-verbal e que tem por objetivo avaliar as funções centrais da inteligência (abstração e compreensão de relações) O teste é composto por 4 exemplos e 44 itens, dispostos por séries de dificuldade crescente. Em cada série, a forma de apresentação dos dominós mantém-se a mesma, sendo que os itens iniciais de cada uma introduzem um novo princípio de raciocínio e, por isso, são mais fáceis que os últimos da série anterior.

        Quanto ao nível de itens componentes do D-70 temos os itens espaciais, os quais exigem estratégias espaciais do sujeito para a sua resolução, devendo portanto este confiar na simetria ou padrão de repetição das peças de maneira a encontrar a resposta certa; Itens numéricos, nos quais devem aplicar regras de soma entre as faces dos dominós de forma a encontrar a resposta correta; Itens mistos, nos quais a resolução de uma das faces é feita por uma regra espacial enquanto a outra face da aplicação requer uma régua e Itens aritméticos, os quais podem ser resolvidos através da aplicação de regras aritméticas simples entre as faces de três dominós (Ex: A+B= C) (Dickes e Martin, 1998 cit in Chartier, 2009).

 

Material Necessário Para a Aplicação da Prova

 

    Para a administração da prova, são necessários o caderno do teste (ANEXO A), a folha de respostas, na qual o sujeito deverá anotar as suas conclusões de cada tarefa que lhe é imposta para resolver, a grelha de correção, o manual do teste, lápis e um cronómetro para contabilizar o tempo decorrido na prova.

 

Condições de aplicação

 

         Para aplicarmos qualquer tipo de prova psicológica é necessário a preparação do material e de todas as condições físicas e ambientais bem como ter em conta factores individuais do sujeito avaliado, como por exemplo a motivação. É necessário que o avaliador conheça impecavelmente a prova bem como as suas instruções e que esteja atento durante todo o processo de avaliação, de forma a evitar erros.

        Deve começar-se uma avaliação dando uma breve explicação ao sujeito sobre o motivo da sua realização. A aplicação inicia-se com a distribuição do material seguindo-se de uma explicação inicial de como os indivíduos devem realizar a prova. É essencial que o avaliador verifique que os indivíduos perceberam correctamente como devem responder e onde devem anotar as suas respostas. Para isso realizam-se alguns exemplos iniciais.
Finalizado este processo inicial, dá-se então início à aplicação que terá a duração de 25 minutos cronometrados. A 5 minutos do fim, avisa-se o sujeito do tempo em falta. Passado o tempo estabelecido recolhe-se o material e termina-se a aplicação.

 

Correção e Cotação

 

        A correção é feita com duas grelhas perfuradas que têm as soluções impressas e que correspondem às duas páginas da folha de respostas. Para a correção de cada página, coloca-se a respetiva grelha sobre a mesma e assinala-se, a vermelho e com um traço vertical, as respostas corretas. Consideram-se respostas incorretas quando se verifica que algum ou nenhum dos números escritos coincide com os da grelha, falta de um número, incluindo o zero ou os valores são precisos mas estão invertidos relativamente à posição nas duas metades da pedra.

        A pontuação direta é adquirida através da soma das respostas certas dadas em cada uma das páginas da Folha de Respostas. Esta pontuação é anotada no canto superior direito da Folha de Respostas indicado com PD (pontuação direta). A pontuação máxima estima 44 pontos.

 

Fidelidade

 

        A fidelidade do teste é encontrada através de correlação das pontuações diretas obtidas entre os itens ímpares e os pares, corrigida pela forma de Spearman-Brown-Método das duas metades, permitindo assim o estudo sobre as duas amostras diferentes.

 

Validade

 

        O índice de validade obtém-se pela correlação com critérios externos ou com outras provas que avaliam as mesmas aptidões, e cuja validade foi provada anteriormente.

        Para que os parâmetros de validade sejam cumpridos, é necessário que o teste cumpra o fim para o qual vai ser aplicado. Outro dos parâmetros que permite conferir esta condição é o índice de validade que se obtém através da correlação com critérios externos ou com recurso a provas que avaliam as mesmas aptidões e que apresentem a sua validade confirmada (validade externa). No caso deste teste D.70 (versão portuguesa) não são apresentados os estudos de validade portugueses, referindo-se os testes realizados em Espanha e que correlacionam estes testes juntamente com as baterias PMA e DAT.

 

Âmbito de aplicação da prova
 

        O teste D-70 pode ser aplicado individual ou colectivamente e a sua aplicação é recomendada a partir dos 12 anos. A duração da aplicação da prova é de vinte e cinco minutos e a sua indicação é a medida da inteligência geral, ou fator g.

 

Vantagens e Desvantagens do Teste

 

        O D-70 apresenta uma elevada validade na medição de inteligência geral, pelo que constitui um instrumento de avaliação muito útil, para além disso, a vasta gama de tabelas existentes permite ao psicólogo que administra o teste ajustar as orientações e conselhos indicados para o sujeito avaliado, seja num contexto organizacional como educacional. O Q.I está também relacionado com importantes fatores educacionais, ocupacionais sociais e económicos e a sua relação com o bem-estar e desempenho dos indivíduos é bastante forte em alguns aspetos da vida (como por exemplo educação e treino militar), moderada mas noutros aspetos sólida (nomeadamente a competência social) e modesta mas consistente noutros (sobretudo no âmbito do cumprimento de leis).         Independente do que os testes de QI possam medir é de importância prática e social, uma vez que um QI elevado é uma vantagem na vida dado que praticamente todas as atividades requerem algum raciocínio e tomada de decisão. Evidentemente que um QI elevado não garante sucesso nem um QI baixo é garantia de fracasso na vida e existem muitas exceções, mas as probabilidades de sucesso no quotidiano são maiores nos indivíduos que apresentam um QI elevado.
        A nível de limitações o D-70 é alvo de algumas críticas fortes, nomeadamente do facto de que o caracter artificial da avaliação pode distorcer os resultados, que estes podem ser afetados por fatores como o mal-estar e a ansiedade e que conduzem à ideia errada que QI é sinónimo de inteligência. A avaliação do D-70 é fortemente criticada dado que testam apenas alguns aspetos da inteligência, focando-se sobretudo nas competências logico-conceptuais, valorizadas pela cultura escolar, ignorando desta forma outras competências, para além do mais este teste avalia apenas os resultados e não os processos mentais que lhe estão subjacentes sendo portanto um teste redutor.

 

Referências Bibliográficas

 

Alves, I. C. B. (2006). Novos estudos psicométricos do Teste D.70. Avaliação Psicológica5(2), 251-253. Recuperado em 10 de abril de 2014, de https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167704712006000200017&lng=pt&tlng=pt. .

Rocha, A. M., Coelho, M. H. (1983). Teste D-70 (Séries Dominós): Manual. Lisboa: CEGOC-TEA

Association, A. P. (n.d.). Publication Manual of the American Psychological Association. (A. P. Association, Ed.) (6th ed.). Washington. DC: American Psychological Association.

Chartier, P. (2009). Les tests dominos (D70 et D2000) : comment dépasser le constat du seul score total ? Propositions d’analyses des réponses. Pratiques Psychologiques, 15(2), 287–299. doi:10.1016/j.prps.2009.01.002