Trabalho de Observação

Introdução

 

        Este relatório surge no âmbito da unidade curricular de Modelos e Processos de Avaliação Psicológica, parte integrante do quarto semestre e segundo ano do curso de licenciatura em Psicologia da Universidade de Évora, lecionada pela Professora Doutora Adelinda Candeias.

        O presente relatório documenta assim a actividade de observação voltada para a problemática do tabagismo nos jovens. O tabagismo está por detrás de aproximadamente 4,9 milhões de mortes a nível mundial, e estima-se que nos países em desenvolvimento cerca de 2,4 milhões de pessoas morram todos os anos por doenças ligadas ao seu consumo. No entanto grande parte dos fumadores adquire o vício ainda na fase da adolescência, sendo que muitos se iniciam ainda em idade escolar. Estima-se assim que cerca de metade da população dos 300 milhões de jovens fumadores no mundo faleça de causas ligadas ao tabagismo. O risco de contrair doenças ligadas ao consumo de tabaco é tanto maior quanto mais cedo se criar este hábito nocivo (Fraga, Ramos & Barros, 2006).
        A nível nacional, a prevalência de fumadores é predominante em elementos do sexo masculino e os níveis mais elevados de consumo de tabaco estão entre os 25 e os 34 anos de idade. Esta é um determinante do consumo regular, sendo que quando este se inicia precocemente existe uma maior probabilidade da sua utilização se tornar habitual e dela derivar um risco associado à morte por doenças ligadas ao consumo de tabaco (Fraga, Sousa, Santos, Melo, Lunet, Padrão & Barros, 2005). Desta forma, estudos empíricos dentro desta temática apontam para uma influência social nos hábitos tabágicos. Segundo Pritchard e Varela (2011), elementos do sexo masculino têm uma maior probabilidade de fumar em grupo ou sozinhos do que elementos do sexo feminino. Os autores supra citados apontam ainda que a probabilidade de fumar aumenta na presença de alguém, sobretudo pessoas próximas.
Em contrapartida existem outros fatores potenciadores do consumo de tabaco nos adolescentes, nomeadamente o comportamento tabágico dos pais e o seu nível socio-económico, sendo que grupos de adolescentes com pais de grupos socioeconómicos inferiores fumam mais (Gecková, Stewart, Dijk, Orosová, Groothoff & Post, 2005). O próprio comportamento tabágico do adolescente é também influenciado por cognições infantis acerca do uso de substâncias, motivo pelo qual se devem ter em conta todos os potenciais contextos propícios à sua criação (Andrews, Hampson, Barckley, Gerrard & Gibbons, 2008).
        No que diz respeito à componente social da génese do desenvolvimento deste hábito nocivo, podemos ainda dizer que a influência passiva dos pares, que leva o sujeito a imitar os comportamentos a que é exposto aumenta significativamente a probabilidade de fumar, enquanto a pressão de pares em concreto não demonstrou ser igualmente eficaz. Num estudo, estudantes confrontados com parceiros fumadores têm uma maior probabilidade de fumar independentemente de lhes ser oferecido um cigarro ou não. Esta evidência reflecte os trabalhos de Asch acerca do conformismo, que nos diz que em contexto de grupo os elementos conformam-se com as normas do grupo e tendem a conformar-se com o comportamento dos restantes membros pertencentes a este (Asch, 1951 cit in Harakeh & Volleberg, 2011).
        Desta forma pretendemos então observar se de facto a influência social é significativa ao nível dos hábitos tabágicos de uma amostra composta por adolescentes e jovens adultos.
        Em seguida descreveremos o método utilizado na nossa observação, onde referiremos os participantes, procedimentos, instrumentos utilizados e por último discutiremos então os resultados obtidos.
        Este relatório encontra-se ordenado segundo as normas da APA, sexta edição e pelo Novo Acordo Ortográfico.
 

Participantes

 

        Para a presente observação foram escolhidos aleatoriamente seis sujeitos presentes no local.

 

Procedimentos

 

        Antes de iniciarmos a nossa observação elaboramos uma tabela, foi então elaborada uma tabela de observação de maneira a clarificar e planear todos os passos necessários para que a mesma ocorresse de forma bem-sucedida (ANEXO A). Para recolher a informação fulcral para o nosso registo de observação, o grupo dirigiu-se no dia 12 de Março por volta das 18:00h ao Club de Bilhar Eborense. Em seguida cada membro do grupo selecionou um sujeito alvo para observar, contudo, dado que o grupo possui número impar, achámos por bem observar um total de seis sujeitos de maneira a ter uma proporção igual de sujeitos fumadores em grupo e sujeitos fumadores sozinhos. Após todos terem confirmado que os sujeitos que iriam observar eram fumadores a observação iniciou-se. Passou assim em seguida a registar-se em papel e caneta, durante um período de 60 min a frequência com que os sujeitos alvo da presente observação fumavam.

        Após o fim do período de observação, os membros do grupo dirigiram-se aos sujeitos alvo apresentando-lhes o seu cartão da Universidade de Évora e passaram a explicar todo o processo que ocorrera previamente. Posteriormente foi facultado aos sujeitos observados um termo de consentimento informado de forma a podermos ter acesso à sua autorização escrita para incluirmos os dados no presente relatório. Contudo, todos os sujeitos observados não acharam necessário assinar o documento, dizendo-nos que confiavam na garantia de anonimato que o grupo lhes prometeu. Após o ocorrido os dados foram passados para tabelas de registo em formato digital (ANEXO B).

 

Instrumentos

 

        Relativamente aos instrumentos utilizados na presente observação, esta recorreu somente a papel e caneta para o efeito. Foram também utilizadas calculadoras no consequente tratamento estatístico dos dados. Para a sua computação informática, os dados foram introduzidos e analisados com o auxílio do software SPSS.

 

Análise de resultados

 

        Os resultados da observação foram então analisados estatisticamente recorrendo ao software SPSS. A tabela 1 (ANEXO C) indica portanto a média, desvio padrão e variância dos dados recolhidos. Em seguida, na tabela 2 (ANEXO D) podemos ver as percentagens de cigarros fumados por cada sujeito observado. Comparando estes valores com a média, podemos então verificar que o Sujeito A fumou 42% mais cigarros do que a média, enquanto o Sujeito B apresenta uma diferença de 28% da média os sujeitos que observamos. Por último o Sujeito F apresentou uma ligeira diferença positiva de 12% face à média. Quanto aos sujeitos C,D e E, pertencentes à condição “Sujeito observado sozinho”, estes não possuíram um consumo significativo comparativamente com a média de todos os sujeitos observados.

        Estes resultados são consistentes com a evidência empírica no qual o presente relatório se baseia, mostrando assim que a influência social aparenta de facto estar correlacionada com o consumo de tabaco. No entanto não é possível certificarmo-nos de que não existiram outras variáveis condicionantes dos resultados obtidos.
 

Reflexão da Observação

 

        A observação é a estratégia fundamental do método científico. No entanto, ela é mais que apenas uma estratégia, é um rigoroso processo de investigação, que permite aos seus utilizadores descreverem situações e/ou testarem hipóteses. 

        Para que a observação perca o caráter exclusivamente instrumental e se torne num procedimento científico, é necessário o cumprimento de certas diretrizes. Como qualquer outro método científico, exige-se a delimitação do problema (no nosso caso prendia-se com os hábitos tabágicos dos adolescentes) ou situação a observar (num café, verificar o fator da influência social no número de cigarros fumados por diversos sujeitos), a recolha (observação em contexto natural, de forma espontânea e contínua) e análise de dados (método quantitativo) e a interpretação dos resultados (confirma-se a hipótese de que os grupos sociais influenciam o tabagismo – os membros de grupos que fumam possuem frequências maiores de cigarros fumados, quando comparados com indivíduos não inseridos em grupos).

        Com uma orientação e planificação bem concretas, é possível reduzir a influência do investigador e de outros fatores externos, o que, aliado ao controlo através de regras e diretrizes, permite validar cientificamente a observação e torná-la confiável.

        Baseando-nos na primeira ficha de leitura efetuada, sobre o capítulo dedicado à observação e decidimos selecionar o registo de frequência, no qual se registou o número de cigarros fumados por alguns sujeitos num período de tempo determinado.

        A observação permite o tratamento de dados recolhidos do mundo real, que permite perceber formas de condutas que, em determinadas situações, não são conscientes para os sujeitos que estão a ser observados. Existem diversas ocasiões em que a observação é a única metodologia aplicável, devido ao facto dos indivíduos não necessitarem de colaborar com o investigador. Mas, é natural que, por vezes, seja difícil de observar determinada conduta em contexto real, uma vez que esta pode não surgir no momento definido para a observação. Podem haver acontecimentos ou fatores externos que inviabilizem a observação e/ou os resultados, sendo que a pouca experiência ou sensibilidade do observador podem, também, comprometer os resultados observados. O facto de não termos analisado mais nenhum fator, como por exemplo o consumo de bebidas, constitui uma limitação à observação, uma vez que o número de cigarros fumados pode não estar apenas relacionados à influência social, sendo esta a única variável que analisámos.

        Esta proposta de trabalho mostrou-se um desafio aliciante para os membros do grupo e que garantiu grandes aquisições a vários níveis: experiência, desafio, trabalho, prática, discussão, entre outros. Permitiu-nos aperfeiçoar os mecanismos de interação dentro do grupo, a divisão de tarefas e a cooperação em momentos específicos da investigação. Entender melhor toda a dificuldade inerente a um procedimento aparentemente simples à primeira vista fez-nos, também, perceber a importância desta metodologia de recolha de informação na avaliação psicológica.

 

Anexos

ANEXO A)

 

 

Tabela de Observação

 

 

Observação direta

 

 

 

O que observar?

 

Unidades de análise: comportamento

 

- Número de cigarros consumidos

 

 

Unidades de registo: Frequência

 

- Número de cigarros

 

 

 

Como Observar?

 

Técnicas de registo: Registo de frequência

 

- Número de cigarros durante 1 hora

 

 

 

Onde Observar?

 

Lugares de observação: Observação Natural

 

- Café

 

 

 

 

Quando/Quem Observar?

 

Tempo: Uma sessão

 

- 1 hora

 

 

Situação: Observar hábitos de tabagismo entre estudantes durante uma hora.

 

 

Sujeitos: 5 sujeitos aleatórios.

 

 

 

ANEXO B)

 

Tabela de Registo

 

Observação: análise dos hábitos tabágicos de estudantes do Ensino Superior mediante a observação do número de cigarros fumados em 1 hora.

Local: Clube Eborense de Bilhar

Data: 12 de Março de 2014

Observadores: - Alex Silvério

                            - Catarina Fernandes

                            - Carlos Ferreira

                            - Cintia Nunes

                            - Rodrigo Pires

 

Sujeitos

 

 

Em grupo

 

Sozinho

Número de cigarros

 

A

 

                 x

 

 

 

10

 

B

 

 

x

 

 

8

 

C

 

 

                    x

 

3

 

D

 

 

                    x

 

4

 

E

 

                   x

 

 

7

 

F

 

                     x

 

3

 

 

 

 

ANEXO C)

Descriptive Statistics

 

N

Range

Minimum

Maximum

Mean

Std. Deviation

Variance

Cigarros

6

7

3

10

5,83

2,927

8,567

Valid N (listwise)

6

 

 

 

 

 

 

 

ANEXO D)

Sujeito:

Cigarros Fumados:

Percentagem:

Diferença da média:

A

10

100%

42%

B

8

80%

28%

C

3

30%

-

D

4

40%

-

E

3

30%

-

F

7

70%

12%

 

Referências Bibliográficas

 

Andrews, J. A., Hampson, S. E., Barckley, M., Gerrard, M., & Gibbons, F. X. (2009). NIH Public Access, 22(1), 96–106.

Association, A. P. (n.d.). Publication Manual of the American Psychological Association. (A. P. Association, Ed.) (6th ed.). Washington. DC: American Psychological Association.

Harakeh, Z., & Vollebergh, W. (2011). The impact of active and passive peer influence on young adult smoking An experimental study, pp. 1–4.

Madarasová Gecková, A., Stewart, R., van Dijk, J. P., Orosová, O., Groothoff, J. W., & Post, D. (2005). Influence of socio-economic status, parents and peers on smoking behaviour of adolescents. European addiction research, 11(4), 204–9. doi:10.1159/000086403

Ramos, E., & Barros, H. (2006). Uso de tabaco por estudantes adolescentes portugueses e fatores associados Smoking and its associated factors in, 40(4), 620–626.

Sousa, S., Santos, A., & Lunet, N. (2005). Tabagismo em Portugal, 80(2), 207–229.

Varela, A., & Pritchard, M. E. (2011). Peer influence: use of alcohol, tobacco, and prescription medications. Journal of American college health : J of ACH, 59(8), 751–6. doi:10.1080/07448481.2010.544346